O jornalismo e a verdade

Carla Zambeli

“Por que a verdade gera o ódio? Por que é que os homens têm como inimigo aquele que prega a verdade, se amam a vida feliz, que não é mais que a alegria vinda da verdade (gaudium de veritate)? Talvez por amarem de tal modo a verdade que todos os que amam outra coisa querem que o que amam sejam verdade. Como não querem ser enganados, não se querem convencer de que estão no erro. Assim, odeiam a verdade, por causa daquilo que amam em vez da verdade. Amam-na quando os ilumina, e odeiam-na quando os repreende.” (Santo Agostinho, Confissões, Livro X, 23,34)

George Orwell, em seu romance distópico 1984, já considerava como “Polícia do Pensamento”, o papel que hoje, mais modernamente e no campo da realidade factual, foi assumido pelas Big Techs da Comunicação, que delegaram aos Fact Checkers ou Agências Checadoras de Fatos, o poder de monopolizar a verdade e deletar pessoas do mundo virtual, a exemplo do que fizeram com o ex-Presidente Trump, pouco antes do pleito eleitoral americano, em 2020.

Em tempos de internet, redes sociais, opiniões relâmpago e fugazes, onde a guerra é travada no terreno minado das táticas de desinformação, a liberdade de expressão vem sendo sistemática e propositalmente censurada a olhos vistos e o jornalismo vem tentando sobreviver à onda de descredibilização causada, em sua imensa maioria, por seus próprios integrantes. 

Profissão das mais antigas da humanidade e importantes à vida civilizatória das sociedades, o jornalismo fez parte de todos os períodos e grandes marcos da história, sempre contribuindo para levar a notícia e a informação, visando desalienar o povo e muitas vezes, sem tanta preocupação mercantilista, mas principalmente visando o fato em si.

No entanto, com a necessidade de se autossustentar, o jornalismo se lançou como atividade econômica, daí surgindo a concepção da publicidade de produtos agregada ao conteúdo informativo, passando o financiamento das notícias a ser feito, em grande parte, pelos anunciantes.

Numa visão voltada para o tempo presente, onde não raro a linha tênue que separa a liberdade de expressão da censura de opinião é ultrapassada e onde todos nós nos tornamos disseminadores de notícias, o jornalismo respira por aparelhos, mas ainda encontra em alguns expoentes de sua representação, vozes que não se calam diante dos mais variados abusos e de atos verdadeiramente antidemocráticos.

Numa triste constatação, questões éticas e pouco republicanas, cederam espaço para militância ideológica e uso do jornalismo como força motriz para calar oponentes no campo cultural e político.

Poderíamos discorrer sobre o trabalho feito nas últimas décadas por grupos políticos de esquerda, objetivando um pensamento hegemônico da sua verdade dentro das escolas e universidades brasileiras, influenciando os professores e estudantes da área, que por sua vez, exerceram ou exercerão seu poder de persuasão como futuros docentes ou jornalistas de redação sobre novos jovens e, assim por diante, num ciclo quase intransponível de hipnose e distorção coletiva da realidade.

No entanto, cabe-nos atentar para o fato de que, não fosse esse “quase”, ao atuar como contraponto a essa estrutura acadêmica até então sedimentada, a recente ascensão das mídias sociais veio quebrar esse paradigma e passou a amplificar o poder do povo pela facilitação do acesso a todo o tipo de informação e fonte de pesquisa, a partir da palma da nossa mão.

No Brasil, o alerta acendeu para a esquerda já durante as eleições de 2018, onde a adesão popular à campanha presidencial praticamente se deu de forma virtual e com parcos recursos financeiros, testando um modelo até então inédito de engajamento político, merecendo destaque o trabalho de formiguinha de grupos de direita, cidadãos anônimos e das chamadas “Tias do Zap” que, organicamente se multiplicaram e contribuíram para transportar as mensagens e notícias relevantes em apoio ao então candidato Jair Bolsonaro, afastado nas últimas semanas das ruas pelo atentado que sofrera de um militante socialista.

Por aí depreende-se a sanha de alguns jornalistas, corroborada pelo ativismo judicial infelizmente vigente em nosso País, de abafar o eco que vem das redes sociais, numa clara imposição de censura aos conservadores, que justamente prezam pelas liberdades individuais e tem como um dos seus princípios basilares a livre opinião, mesmo que não concordando com o teor das manifestações contrárias, tampouco com sua agressividade verbal e emprego de “modus operandi” pouco convencional. 

No cerne dessa questão, o famoso instituto das “Fake News”, nome em inglês utilizado para qualificar uma notícia falsa ou mentirosa, propagada deliberadamente por meios de comunicação como se verdade fosse, cai como uma luva para a turma do “quanto pior, melhor”, acostumada que está de promover o cancelamento de pessoas, denegrir reputações e tentar interferir negativamente em vários setores da sociedade e da política como um todo.

Isto porque se prevalecem da fragilidade humana e da falsidade que lhe é intrínseca, para dissimular seus próprios objetivos de polarização, divisão e, por fim, censura do cidadão comum e cassação de direitos inerentes ao exercício de determinadas funções públicas, como o caso do parlamentar que dá voz ao seu eleitorado, protegido constitucionalmente que é, por quaisquer opiniões, palavras e votos.

Nesse sentido, cumpre-nos alertar para o perigo que reside no PL 2630/21 e seus substitutivos, de autoria do senador Alessandro Vieira e relatado pelo deputado comunista Orlando Silva, que enterra definitivamente o jornalismo sério, independente e comprometido com a verdade, controla as mídias sociais, cala o instrumento vocal do povo, que terá cerceado o seu direito à livre expressão, ação e manifestação de opinião, devolvendo, em contrapartida à grande mídia esquerdista o monopólio da informação.

Essas são situações típicas de regimes totalitários, que não possuem imprensa autônoma e onde as mentiras ganham trânsito livre para se proliferarem, segundo o poder de censura e avaliação que lhes será conferido, sobre o que é falso ou verdadeiro baseado em seus critérios e interesses políticos e econômicos pessoais e sem que possam ser ameaçados pela democracia da dúvida ou quaisquer outros questionamentos populares.

Para finalizar, voltamos ao início do artigo, quando Santo Agostinho sabiamente se referia aos que só tem amor à verdade quando esta os ilumina, do contrário, quando os repreende, odeiam-na.

Sejamos nós, cidadãos brasileiros, precursores do bem e da verdade, não só a que nos convém e aos nossos propósitos, mas a que traz em seu bojo os ensinamentos cristãos, dentre os quais a honestidade, a lealdade, a liberdade, o respeito e a justiça. Fica o apelo e as congratulações aos jornalistas pelo seu dia e que exercem o seu mister com maestria.

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