O que nos diferencia

Assistindo a excelente série para televisão “John Adams” sobre o esforço de Independência dos Estados Unidos, começam a clarear as razões que nos diferenciam do modelo politico do nosso irmão do norte. Basicamente na origem fomos uma colônia de exploração e eles uma colônia de povoamento, o que fez uma terrível diferença a começar pela ocupação física – grandes latifúndios monoculturistas escravocratas contra pequenas propriedades produtivas para abastecimento das colônias Inglesas e Holandesas no Caribe.

Isto deu ensejo para que se criassem nas 13 colônias originais dos EUA, uma pujante classe media produtora, consumidora sequiosa pelos direitos e liberdade que não tinham na Europa nos seus países de origem – e abjeta ao mesmo tempo de qualquer diferencial social, típico das monarquias absolutistas da época. Enquanto isso no Brasil,  desembarcavam nobres feudais para ocupar seus latifúndios,  suas sesmarias conferidas pelas Cortes de Portugal, para qualquer um disposto a ocupar terras no além-mar. Estabeleceu-se assim duas colunas de sustentação do modelo econômico-social do Brasil – Os privilégios e a Impunidade dos privilegiados – tão comum nas Cortes Portuguesas,  diferenciando a nobreza do resto da pequena população local. 

  A Constituição Americana foi escrita em 1787 e posta a vigorar em 1789, curta e concisa perdura até hoje. “Nós, o povo” diz ela no seu inicio. Em 1791 os Direitos dos Cidadãos (Bill of Rights) através de dez Emendas Constitucionais  foram anexados. Tratam dos direitos básicos como o de livre expressão, de religião, de associação, da livre imprensa, de carregar armas, entre outros. Esses dois documentos traduziam os valores pelo quais os habitantes das 13 colônias lutaram contra o maior império militar da época.

Esta sofrida Independência é a base de todos os valores tão valorizados pela sociedade Americana até os dias de hoje – a igualdade, os direitos e as liberdades individuais, o respeito às Instituições, à Constituição, à Bandeira e ao Hino Nacional – que em suas estrofes faz menção às batalhas da Independência. A consequência é uma sociedade solidamente baseada numa segurança jurídica que já perdura por quase 250 anos onde cada instituição conhece e respeita os limites de sua atuação.

O caso Brasileiro nos difere no essencial. Praticamente não tivemos uma guerra de independência, que se por um lado foi louvável, por outro não permitiu que se desenvolvesse um sentimento de orgulho e sacrifício pelo ato em si – foi apenas uma mudança de endereço: das cortes de Lisboa, pelas cortes do Rio de Janeiro sob o comando do filho do Rei. Foram mantidos os pilares dos Privilégios, da Impunidade dos privilegiados e a Falta de Representatividade.

Existem ilhas e momentos de excelência no Brasil, mas na maioria do seu cotidiano o Brasileiro convive com a desesperança de mudanças, devido a um ‘Sistema’ que é maior que ele. Esta é a maior diferença do povo Americano que convive com o desafio diário de melhorar num país de oportunidades iguais.

Roberto Musatti

Economista (FEA-USP), Mestre em Marketing (Michigan State), Doutor em Marketing (CIBU-San Diego)

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